Quando, neste ano, morreu, José Saramago tinha 87 anos. Viveu com Pilar ao longo de 25. Conheceu-a já com 63, 28 anos mais velho. Dizia, como prova de seu amor, “Se eu tivesse morrido aos 63 anos antes de lhe ter conhecido, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora”. E chegou, enfim. Foi-se mais novo, renovado. Amou-a de verdade. (…) A morte de Saramago foi marcante. Chorei. Durante semanas a fio fiquei a pensar na hipótese de não mais poder conhecê-lo mesmo sabendo que, ainda que ele estivesse vivo, eu não teria, muito provavelmente, tal oportunidade. Entristeci-me. Era como um outro avô para mim. (…) Meu 2010, contudo, coincidência ou não, foi como Saramago: um ano de opiniões polêmicas — que acabaram por me levar mais rapidamente à decisão de empreender e somente empreender — e língua extremamente afiada. Foi, também como Saramago, muito embora eu tenha infelizmente ‘solteirado, um ano apaixonante. (…) Do jantar no Dona Veridiana, quando ainda contavam-se 5 dias do ano, até o momento em que escrevo este post, já em 30/12/2010, muito mudou e muito ficou como sempre esteve.
Enquanto, neste ano, José Saramago morria na ilha de Lanzarote, eu escrevia posts, divertia-me e trabalhava. E vivia, assim, para registrar minha insatisfação com os gestores de fachada que estão mais afim dos fins quando em comparação aos meios, que mais se ocupam com a direção dos números ao invés dos sentimentos individuais e que, mesmo assim, justa ou injustamente, como preferir, ainda estão lá. Escrevia para eternizar a queda que tenho ao falar de amor e a eterna vontade de constituir uma família, com uma mulher companheira — tal como Pilar — e um lindo casal de filhos. De repente, trabalhava também para demonstrar minha vontade de fazer crescer uma nova empresa, ou melhor, algumas, gerando empregos, promovendo o desenvolvimento social e, sobretudo, realizando sonhos.
Quando, neste ano, José Saramago morreu, talvez pudesse ter parado para pensar: a vida é assim mesmo. Porque todo ano é assim. Porque toda uma vida é assim. Uns vão, outros vêm. Uns tatuam seus nomes em nossos corações, outros sequer deixam uma marquinha, antes fosse. Num dia, feliz; no outro, com o humor de uma carranca. Num dia, otimista; no outro, cético como José. (…) Mudando ou não, bem da verdade, tanto faz, pouco importa. Importa, sim, que a vida é assim: algumas coisas mudam, outras nem tanto. E os anos passam. (…) E que em 2011 sejamos felizes. E que, para tanto, haja mais sorriso, mais disciplina, mais trabalho e muito mais amor. Com mais saúde, luz e justiça.
Feliz 2011.