Árvores ao redor, sol, uma roupa despojada e a imagem, à direita, de um homem grande a caminhar em frente, forte, fotografado de costas, cercado de boas energias por dentro e por fora: nada pode representar melhor a imagem que, desde criança, eu tenho de meu pai — Odair Girarde.
De modo quase perfeito, é como se o retrato ilustrasse a relação de exatas três décadas que temos: ele à frente; eu, seguindo seus passos. Na mente, infinitas, somente boníssimas lembranças. (…) Nunca me bateu; lembro-me vagamente só de um puxão de orelha. Não me acordava às 6 para as viagens; enrolava-me nas cobertas e me acomodava no banco de trás para que eu pudesse acordar lá. Tirou fotos minhas fazendo xixi na praia, onde vivia enrolado na toalha do São Paulo Futebol Clube. Contratava uma espécie rara (e falsa!) de He-Man — o super heroi — para animar minhas festas de aniversário. Levou-me certa vez ao gramado do Morumbi, aos 8, quando fui mascote do time são-paulino, na época com Silas, Müller e Pita. Venceu ao meu lado o primeiro campeonato de pipa do Guilherme de Almeida, fantástico colégio onde me pôs a estudar desde o primário. Explicou-me a diferença entre advogado de defesa e advogado de ataque. Assinava com a testa franzida os bilhetes que, enviados pelas professoras, noticiavam minha má conduta em sala. Atendia aos meus telefonemas chorosos, aqueles do tipo vou-contar-tudo-para-o-meu-pai. Trazia-me, todo engravatado, centenas de figurinhas e dezenas de times de botão com os quais me divertia sozinho no chão da cozinha. Comprou-me o primeiro equipamento de som depois de perder a aposta que fizera comigo — eu passaria de ano em troca da parafernalha. Esperou-me dormindo no carro enquanto, já como DJ, eu fazia a festa. Entregava-me, na adolescência, duzentos mil cruzeiros para ir à praça azarar as meninas de Careaçu, pequena cidade de onde trazíamos lambaris e mandis. Bem da verdade, meu pai sempre deixava os peixes fisgados para que eu, sentindo-me o pescador profissional, pudesse retirá-los da água com uma emoção danada. Viu-me crescer, chorar, estudar. Comprou mais de trezentos livros e apoiou-me durante todo o tempo em que, estressado e encarecando, eu estive a pastar no mercado de trabalho e durante todo o período universitário. Abraçou-me forte quando me viu de beca, formando-me em Administração de Empresas pelo Mackenzie. Assinou o contrato social de minha primeira empresa, na qual, mesmo tendo injetado 99% dos investimentos iniciais, tinha apenas 1% de participação. Pressionou-me, como bom pai, por bons resultados. Ensinou-me que ter paciência é nobre. Colocou suas leves mãos nos meus ombros quando precisei. Chorou ao meu lado quando precisávamos. (…) Por fim, criou-me sem proferir sequer mil palavras de sermão. Era simples: numa singela relação de olhar, um olho no outro, eu já havia aprendido tudo, ou melhor, ainda aprendo. Odair Girarde me adotou não somente como filho, mas sobretudo como um parceiro, um amigo para toda hora.
São lembranças de um pai que, vivo, permanece ao meu lado a comemorar seu 64º aniversário. Contaria, aqui, se num post coubesse, a história de outras milhões de boas lembranças. (…) Numa das últimas, o retrato de árvores ao redor, sol, uma roupa despojada e a figura, à direita, de Odair Girarde, meu querido pai, homem grande a caminhar sempre em frente, forte, cercado de boas energias por dentro e por fora. Um exemplo a ser, literalmente, seguido.
(…)
Corra, Pai, corra! Temos muito a viver.
Parabéns, Sr. Odair Girarde, pelo homem amigo, sério, divertido, inteligente, dinâmico, sábio em suas palavras, que o senhor educou para que pudéssemos conhecer…
E de coração, parabéns pelo seu aniversário!
Muitos mais anos de vida lhe desejo!
Abraços aos dois!
Saudades sempre de seus textos, Willian!
Querida Liliane, falar de meu pai é falar com fluência do homem mais fantástico que já conheci. Fica fácil. =) Saudades de ti também!
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O espelho mais gostoso de se olhar no mundo, o nosso pai.
Parabéns Willian pela sensibilidade e reconhecimento dos reais valores da vida.
forte abç
seu fã
Wagner Mariano
Wagner Mariano: dele o fã sou eu. Sem mais.