Em laranja vibrante, sobre a roupa engomada, Acompanhante PS. PS de pronto socorro. Na roupa, o adesivo que facilmente descola separa. Separa o grupo dos enfermos do grupo dos acompanhantes. Mas é só. Porque, embora os hospitais vivam ao ritmo dos monitores cardíacos, sirenes e à mercê das cadeiras de rodas, embora tenhamos a falsa impressão de que são lugares açoitados por rajadas de má energia a todo momento, hospitais são espaços de união. Nada além do adesivo separa; todo o resto une.
As mãos nos ombros e as bengalas servem ao enfermo de apoio. E ali não há sem apoio sequer um dolorido, tossilento, manco, ranhento, mudo, rabugento ou ardente em febre; não há sequer um abandonado sentindo a falta de outro ao lado, ainda que o outro seja outro enfermo, uma enfermeira, um médico ou mesmo um coadjuvante acompanhante ps. Não importa a condição: pois basta sentir que o corpo cambaleou para que a união vire pauta. E os que traziam rusgas esquecem os desentendimentos, os que vivem a reclamar mudam de ideia e todos, ali, unidos, novamente voltam os holofotes àquela que, às vezes esquecida, torna a reinar em seu justo protagonismo – a vida.
Na recepção, outro casal. Mãe e filho. Ele está prestes a colar sobre a roupa um adesivo laranja, saca a carteirinha do convênio e um documento. Ela senta, pálida. Na semana anterior, quando ele sentiu calafrios decorrentes de uma infecção alimentar, havia sido o contrário. Juntos, novamente eles vão lutar pela vida. Unidos. Unidos como todos somos quando o corpo entra em falsete. Unidos como todos somos nos hospitais, lugar de gente que segue lutando em favor de seguir respirando tudo isso.
Viva!