Ensaio sobre a liberdade


aquario



Trabalho como professor universitário. Aos 15, ainda adolescente, não me passava pela cabeça que seria, aos 28, um desses. Até aí, nada de anormal. Anormal, porém, talvez seja o fato de que sempre, desde que me conheço, fui avesso ao sistema educacional. Como professor universitário, por obediência às normas, aplico provas, avalio alunos e responsabilizo-me pela aprovação ou reprovação nas disciplinas em que leciono. Como professor universitário, não poderia ser diferente, gostaria que os alunos fossem mais livres. E livres porque, afinal de contas, no momento em que escolhem um dentre os ramos de atuação disponíveis por aí, os alunos já estão disputando espaço e, caso não estejam a fim, que arquem com as consequências (se é que haverá).

O problema da falta de liberdade, porém, não se restringe aos meus profundos desejos de alterar o sistema educacional e as resultantes decorrentes de sua ausência; a liberdade, quando em excesso, também pode gerar problemas. Se tal ausência provoca situações em que o indivíduo se sente desmotivado e afônico ao imaginar mudanças, o exagero promove, na mesma proporção, reivindicações em excesso, democracia em níveis absolutos (…) e nessa condição, livre, o bendito indivíduo passa a achar que pode fazer tudo. Para ilustrar, basta relembrar os casos comuns de funcionários que, justamente por serem livres demais, fazem o que bem entendem, os casos dos jogadores que tiram o cartão amarelo das mãos do árbitro e o adverte ou, um exemplo mais familiar, o quão raros são os relacionamentos nos quais muita liberdade não é motivo para desavenças.

Falando em relacionamentos, neles a liberdade e a confiança andam de mãos dadas; isso porque quando a liberdade está nas pontas de um gráfico de crescimento (carente ou em excesso), há indícios de que a confiança, por sua vez, não está em grau sequer aceitável. Por um lado, o da carência, comuns são as situações em que a liberdade é buscada. Por outro, o do excesso, desconfia-se do indivíduo que se aproveita da liberdade que tem. Creio, por tudo, que essa conexão entre liberdade e confiança seja um dos principais motivos que impulsionam tomadas de decisões erradas no amor e, por consequência, afogam casais que poderiam dar certo.

Como professor universitário, ainda assim, não há em mim qualquer fundamento teórico que seja capaz de comprovar o que escrevo. Há, porém, uma vontade tremenda de alterar em 0,001% o sistema educacional no qual estamos inseridos, de diminuir a liberdade que me torna um líder humano demais, de estar vivo para ver jogadores sendo expulsos quando acharem que podem fazer qualquer coisa num campo de futebol e, acima de tudo, de encontrar o equilíbrio num relacionamento que — o meu maior sonho — seja eterno.


2 comments on “Ensaio sobre a liberdade”

  1. Nossa professor, amei as coisas que você escreve, algumas coisas até me emocionaram, sabia ? Vc escreve com tanta paixão com tanta liberdade nas palavras! Parece até um escritor profissional, adorei passar algum tempo por aqui lendo seus escritos, é legal saber que tenho uma pessoa assim dando aula pra mim. Continue escrevendo assim.

    Beijos, Sara.

  2. Sara.

    Você, sim, é uma ótima pessoa, aluna, … e fico muito feliz em saber que passou por aqui. Que tal continuarmos mantendo contato?

    Obrigado por me visitar.

    =)

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