Antipaquito antipático

 

 

Não fazia parte do universo de garotos que, lá por volta dos anos 90, sonhava em ser paquito. Hah, pensando bem, eu nem poderia. Os caras eram loiros, alguns tinham um estilão meio metrossexual e outros, imagine só, cultivavam madeixas que deixariam Xororó e Zezé di Camargo com uma baita inveja. Blérgh, não sei o que é pior. (…) Aliás, falando nisso, esta reportagem [link] noticia de modo cômico o atual paradeiro dos pupilos de Xuxa Meneghel. Ish, andam tão gordos quanto sanduíche de mortadela! Era de se esperar.

Não sonho em ser paquito ao gosto antigo. Quer saber? Sequer ao moderno.

Hoje, vê se pode, os neopaquitos já não têm cabeleiras empapuçadas em laquês Karina, são menos andróginos que os originais e não se importam tanto assim com a maquilagem que esconde o rostinho suave, pálido e afeminado. A nova geração de paquitos é diferente: usa óculos da moda, pomada nos cabelos, gola engomada e desfila roupas descoladas — numa expressão fútil de gente do tipo rica. Tipo R. Na embalagem, braços e abdômens torneados; no âmago, uma vontade insaciável de devorar fêmeas. (…) Conquistador. Pai d’égua. Grito da moda.

À luz daquela época, anos 90, comumente armavam-se alvoroços às margens desses garotos. Hoje, nenhuma mudança; a saga continua.

Jovens mulheres, muito embora classifiquem os bons homens como raros, continuam à caça de paquitos do tipo R. Debatem copiosamente em rodas de bar, discursam sobre a ética do amor, dizem sonhar acordadas com o casamento e os relacionamentos duradouros, mas vivem lambendo beiços de paquitos por aí. E sofrendo as consequências, claro. (…) No final das contas, o balanço — contraditório, por sinal — não bate: sobram homens bons e faltam os paquitos.

O problema fundamental cerca o fato de que o homem verdadeiramente bom geralmente não usa óculos da moda, pomada nos cabelos, gola engomada e não desfila em roupas prafrentex. O raro, dito procurado, não tem braços torneados e no fundo, bem lá no fundo do ser, ao invés de simplesmente devorar crua, vive para oferecer amor puro à sua amada. De procurado, coitado, o homem raro não tem nada. Mentira das mulheres. Procurados são os neopaquitos, esses sim.

Busco, dia após dia, uma mulher rara na qual possa depositar todos os bons sentimentos que tenho a oferecer. Meu nome é Willian Girarde, sou antipático, antipaquito e, apesar de me sentir atraído por loiras, não procuro uma paquita da Xuxa.

Eu só quero amar. Só quero amar.

 

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