O Clube Esportivo da Penha foi fundado no primeiro dia de 1930, existe até hoje e é um dos poucos espaços poliesportivos que ainda não foram destronados pelas atrações das áreas de convivência nos condomínios, pelas modernas academias de ginástica ou mesmo pelos comportamentos sedentários que afastaram definitivamente muitas crianças e adultos das atividades ao ar livre. Nos primeiros anos de sua existência, o CEP — como o clube também é conhecido na zona leste paulistana — era uma opção distinta ao público, que se divertia em suas piscinas flutuantes naturais sobre o Tietê. Em 1953, porém, a alteração no traçado do rio quase pôs tudo a perder. Não fossem as manobras administrativas e as importantes campanhas para atrair novos sócios e mantê-lo vivo, o Clube Esportivo da Penha certamente não teria sido palco do primeiro encontro entre Odorica e Odair. Foi num baile do CEP, em meados de 1967, que os jovens se conheceram. Mal sabiam: mesmo tendo que enfrentar cinco problemas já nos primeiros encontros, o amor duraria para sempre.
Vilma, dê uma olhadinha naquele rapaz ali. Odorica havia se empolgado com a presença dele e o apontava para uma de suas melhores amigas. Era Odair. Estavam num desfile no Clube Esportivo da Penha, onde na mesma noite aconteceria um baile dançante. À época, era comum que homens convidassem mulheres para uma dança a dois. E foi o que aconteceu quando o baile se iniciou. Galanteador, Odair se aproximou e a convidou para dançar. Então, o primeiro problema: ao invés de estender a mão a Odorica, o jovem Odair a estendeu a Rosinha. Rosinha era amiga de Odorica e o fato de Odair ter convidado sua amiga para dançar a deixou furiosa. Pensei que ele me tiraria para dançar! Mas a fúria não durou muito, pois bastou que mudassem a música para que Odair fizesse a escolha certa. Nova dança e um novo convite: Odair e Odorica, enfim, dançavam pela primeira vez. Ao longo da festa, não só dançaram, mas também conversaram bastante, conheceram-se melhor. O segundo problema apareceria ao fim do baile, na mesma noite: chovia muito na Penha e Odair não era do tipo abastado, que tinha carro e muito dinheiro. A ideia, a priori, era que ele pudesse convidá-la também para uma carona, mas não pôde: deixou-a no ponto de ônibus mais próximo para que, sozinha, a jovem voltasse a São Miguel. E foi. Voltou só, chegou ensopada. […] Passaram-se alguns dias e marcaram um novo encontro. Odorica exporia os primeiros indícios de que era uma pessoa paciente, tanto por aceitar o novo convite quanto pelo terceiro problema: Odair marcou o novo encontro e não compareceu. Fim, não o verei mais!, finalizou. Na prática, não foi assim. Já na segunda-feira, Odair também exporia os primeiros indícios de que estava apaixonado: pediu que um amigo fosse à porta da Philips exclusivamente para entregar a Odorica um pequeno bilhete. Quero encontrá-la novamente. Odorica, na ocasião, foi taxativa: Quer? Pois que ele venha aqui! Então, no outro dia, logo cedo, mesmo com o compromisso de bater o ponto pontualmente às nove no banco onde trabalhava e fez carreira, lá estava Odair em frente à Philips, às 6h30 da manhã. Encontraram-se e marcaram um novo encontro, de novo. Por sorte, uma nova chance ao jovem galanteador. […] Quarto problema: além de galanteador, Odair jogava futebol com amigos, tocava numa fanfarra — era literalmente um fanfarrão! — e ainda tinha o péssimo hábito de chegar atrasado aos compromissos pessoais. Por conta disso, um novo e impressionante bolo com chá de cadeira: Odair não compareceria novamente ao novo encontro, de novo. A fúria de Odorica, então, voltou à tona: Fim, eu nunca mais o verei! Mas não; afinal, a uma também apaixonada mulher bastaria somente um novo bilhete e Odair ganharia uma nova chance. O bilhete chegou, mas o local do encontro, por uma inteligente decisão de Odorica, seria outro. Se quiser me ver novamente, pois que venha à minha casa! Tarefa árdua a Odair, que, sendo de Guarulhos, precisaria tomar um ônibus até a Penha — onde ficava o clube —, descer no centro comercial de São Miguel e finalizar o trajeto a pé, até a casa da jovem. Com o pé cortado, imagine, seria ainda pior. […] Era noite e, pela própria segurança, Odorica estava acompanhada de Benedita, sua mãe, que não se cansava de alertar as filhas sobre a cafajestice dos homens. Mais uma vez, fato já comum, Odair se atrasou. Ele não deve vir, dizia a desditosa Odorica. Na outra ponta da rua, porém, minutos depois, Odair apontou. Com ele, o quinto problema: o jovem galanteador sofria, de fato, com um corte na pele e vinha mancando; o pé esquerdo num sapato e o outro — o machucado — num chinelo. Bem verdade, era a prova de amor que Odorica tanto esperava. Evidente, todo o esforço de Odair era abastecido pela vontade que ele tinha de tê-la para sempre. […] Então, sem ao menos que houvesse um pedido formal de namoro, começaram a namorar. Casariam em 1972, criariam filhos a partir de 1981 e viveriam as bodas de esmeralda — em comemoração ao 40º ano de casamento — em 2012. Permanecem juntos, permanece o amor.
Até hoje.
Simplesmente maravilhoso!
Tem mais? Tem mais?
Obrigado pela mensagem, Liliane. Também agradeço pela assiduidade como leitora deste humilde blog. Sobre minha mãe, decerto haverá mais. Mãe é para sempre.