Aos 60, Fácil

Exceto nas vezes em que minha situação for decrépita, não vou me utilizar do direito que comumente o idoso tem de furar filas e receber atendimento especial.

Há pouco, aguardando ao menos há uma hora por atendimento, deparei-me com um casal, 45 e 65 anos, saúde impecável, com senha para atendimento especial em mãos e uma sensação latente de malandragem. E não só. Vi também gente nova negociando a aclamada senha com senhores em idade sexagenária, como se a condição fosse própria para negociação. Ética às avessas.

Sou patriota e continuo achando que quem não gosta do Brasil, fato, deve preparar suas malinhas, juntar dinheiro + passaporte, comprar passagens promocionais (só ida) e não voltar mais. Mas, eu concordo, alguns traços culturais do brasileiro são bastante discutíveis.

Quando aos 60, chego se Deus quiser, vou preferir me passar por 40, curtir a vida como aos 20 e reviver o espírito justo e puro de uma criança.

Downtown

Eu vi uma criança com uma garrafa de Guaraná Antarctica na mão enquanto uma senhora pobre e faminta clamava por um gole. Vi outra senhora, rica, andando com suas mãos atadas às do marido, um simpático senhor, ambos beirando os 80, numa cena de puro amor. Vi também uma dona de barraquinha contadora de histórias, obviamente contando histórias para os outros barraqueiros, colegas de trabalho. Eu vi uma garota ao telefone celular, roupa impecável, falando mal da amiga. Vi um rapaz maltrapilho, flamenguista e mal-educado, escarrando em plena avenida. Vi também um moço, rosto carrancudo, reclamando no momento em que viu um automóvel estancando a faixa de pedestres. Eu vi um ambiente de trabalho burocrático, pessoas aparentemente desmotivadas, mas um recado ao superior colado no monitor do computador: “Eu te amo, Chefe!”.

Foram 3 quilômetros caminhando (sem carro) no centro da cidade onde moro — Guarulhos.

(…)

Andei, vi pessoas. Sinto falta.

Pe$$oa$ ou pessoas?




Tenho discutido às conchas sobre gestão de pessoas. E discuto porque defendo o ponto de vista que impõe ao líder uma condição simples: priorizar o ser humano. Assim, ao invés de diretivos e voltados à produção, prefiro líderes participativos e orientados para pessoas.

Há dois dias, enquanto discutíamos – uma amiga e eu – sobre futuro acadêmico, questionei sobre os sonhos que ela tinha. Troquei, confesso, as tarefas e a construção dos cronogramas de 2010 por alguns minutos ali. A conversa, até então despretenciosa, fluiu … e ela acabou esclarecendo seus desejos e visões de futuro, muitos deles (e só ali ela percebeu) não-relacionados à sua vontade de cursar bacharelado em administração de empresas e ao trabalho que exercia naquele exato momento. Até aí, folks, situação comum; o inusitado, neste caso, não está no bate-papo.

Desde os livros de Schwartz e Robbins, minha preferência por líderes orientados para pessoas se dá porque ainda não conseguiram me convencer de que os diretivos, orientados para resultados, são mais eficientes em médio e longo prazos. A justificativa é simples: quando prioriza resultados, comumente o líder não alcança sequer suas expectativas (…) ou alcança, mas desperdiça recursos além da conta. Em contrapartida, quando prioriza pessoas, os resultados são agradáveis consequências de esforços realizados por verdadeiros colaboradores que entendem o papel do trabalho ao longo de um processo e sobretudo como parte integrante de seus sonhos e visões de futuro. Há troca.

Creio que, bem como acontece com o professor em relação aos alunos, ao verdadeiro líder atribui-se necessariamente a tarefa de conhecer não somente feição e nome, mas os sonhos de cada funcionário. Há dois dias, enquanto conversávamos a amiga e eu, vivenciei novamente esse insight. Há dois dias estou certo de que priorizar o ser humano distingue os verdadeiros líderes e suas empresas de outras nas quais as pessoas são vistas como ferramentas de consecução de resultados. (…) Coisas de equipe.

E aí, líder? O que me diz?



😉

Sexta-feira: o pior dia da semana

fridayspost




Incomodam-me as pessoas que comemoram o início de um final de semana. Não todas, claro, (…) uma fatia pula de alegria porque o final de semana representa a época em que o dinheiro entra. É o caso, por exemplo, dos DJs. Outros – e esses também têm argumento aceitável – são do tipo que trabalham muito e precisam descansar, oferecer um pouco de si à família e aos amigos. Incomoda-me, sim, o tipo de pessoa que comemora o início de um final de semana simplesmente porque não suporta trabalhar; para estes, sábado e domingo representam uma época em que se livram do trabalho.

Trabalho com Empreendedorismo, sou adepto (ou addicted, melhor) das redes sociais, leciono e empreendo. Por conta disso, com frequência me deparo com frases em que jovens (jovens!) demonstram exacerbada satisfação quando sextas-feiras chegam. Posts como este (http://migre.me/ewwb), este (http://migre.me/ewwg) e este (http://migre.me/ewwj) me desanimam.

Sob meu ponto de vista, é o AMOR que move o ser humano. Um empreendedor, por exemplo, adora a segunda-feira. E adora porque, assim como acontece quando se apaixona, ele quer se reencontrar com o trabalho, atividade, com sua microempresa, quer rever a sua paixão. Para o empreendedor, segunda-feira muitas vezes é um momento para novas ideias, novos negócios ou para se renovar. Simples de tal modo que, cada qual no seu ritmo, para empreendedores as novas ideias, negócios e inovações também acontecem às terças, quartas, quintas, sextas e até aos sábados e domingos. Não há, portanto, distinção. Todo dia é dia e dia após dia (rs) a paixão cresce. (…) O romântico vivencia seu amor por todo o tempo. O apaixonado não tira férias de sua paixão. O apaixonado não deixa de amar aos finais de semana. Ele simplesmente ama.

Assim, folks, se não amam o trabalho, a rotina, e precisam do final de semana para enxergar um fiozinho de felicidade correndo pelas veias, lembrem-se do triste (triste?) cálculo que designa ao trabalho pouco mais de 20% do tempo de uma vida. Uma vida.

(…)

Sou inimigo do TGIF. Não sou cliente assíduo do Friday’s.

Meu primeiro milhão

 

Meu primeiro milhão

 

Quando chora, tristeza; quando sorri, alegria. E quando não chora tampouco esboça um sorriso? Talvez por conforto ou mesmo preguiça de pensar, somos do tipo que bem entendemos as situações nas quais as correlações, sentimentos e evidências são claros e — estatisticamente falando — se encontram nas pontas de uma suposta curva de Gauss. Assim, se um indivíduo sorri, tendemos a entender que se sente bem, ao passo que se o mesmo indivíduo chora, inferimos que precisa de algo. Parece fácil, mas não é. E não é porque a escala, justamente por ser uma escala, não abriga pontos somente em seus extremos. Ao contrário do que parece, a maior concentração de pontos está em níveis médios, ou seja, as correlações, sentimentos e evidências que se referem às mais distintas situações são imperceptíveis [sobretudo em níveis médios] aos olhos de quem os analisa levianamente. Nesse sentido, se o indivíduo não sorri e não chora, a análise, a fim de que realmente se entenda a situação, precisa se dar à moda profunda, complexa.

Um milhão de reais é percebido como tal quando sob a forma de papel-moeda. Ao fim da contagem das notas, é evidente — para não dizer óbvio! — que, exceto nos casos em que houver cédulas falsas, um milhão vale um milhão. Quando sob outra forma, porém, um milhão de reais vale menos, por vezes mais, mas é improvável que valha exatamente um milhão. Em suma, sob a forma de papel-moeda o milhão se encontra no ponto de equilíbrio da escala. Já sob a forma de experiência ou amor, como exemplos, num dos níveis intermediários. […] Minha tese infundada de que o valor é comumente percebido somente quando o produto de uma situação se torna tangível pode ser ilustrada por um exemplo simples: a relação aparentemente injusta que existe entre o empreendedor e a primeira fase do ciclo de vida da organização estabelecida por ele, situação na qual o dinheiro aparece pouco, mas o valor do esforço, ao menos no início, é absorvido sob a forma de experiência. […] Outro exemplo, ainda mais simples, diz respeito aos relacionamentos. Quando um homem se declara, oferece à mulher muito mais do que uma estrutura óssea envolta por órgãos futuristas e coberta por uma camada multitouch de pele. Quando apaixonado se declara, o homem oferece à mulher seu coração, sua família constituída e o desejo íntimo de constituir sua própria e sua guarida, com filhos e netos. À venda, pense bem, a compra de todo esse pacote não seria suficiente com um mísero milhão. Curioso, entretanto, é que tal situação está em níveis intermediários e, assim, não é percebida pela mulher, que analisa o contexto de maneira leviana. Assim, às cegas pela não-mensuração do valor ou pela preguiça de ser complexa, a mulher não absorve a oferta milionária e continua a aguardar ansiosa pelo príncipe encantado — esse, sim, situado no extremo da escala.

Meu primeiro milhão eu já conquistei, mas sob outras formas. Valem milhões minha família, amigos e trabalho. Valem milhões todos os meus amores. Ah, e hoje sou tão rico que já ofereço maletas milionárias por aí. O segredo está na complexidade da análise.

Who wants to be a millionaire?