¿É uma mania — como se realmente pudéssemos entender o que é relevante — de restringir a visão somente àquilo que realmente importa, não? Digo o ser humano, aquele que comumente se isola e que, ali, só, acaba por isolar de outras variáveis somente o que lhe vem à mente. Isolar-se. Isola-se. De certa forma, dizia Maslow, existem necessidades sociais sem as quais provavelmente não se alcança a auto-realização; não se vive. E, assim, isolado, o ser humano não sobrevive. Morre. (…) Isola quando julga, quando se relaciona, quando planeja o futuro ou quando decide. Isola quando opta por fumar ao invés de cuidar da própria saúde, quando discute ao invés de entender os motivos ou ainda quando agride com palavras que não machucam a pele, mas ferem a alma, ao invés de bem discursar.
Julgar é isolar. Porque julgar é adentrar o universo de possibilidades e pinçar, dali, somente uma delas. É olhar para o todo, destacar o que se entende como conveniente e, então, julgar. Isola-se, assim, o que parece convenientemente útil; descartam-se as inutilidades inconvenientes. (…) Casar é isolar. Porque casar é excluir das possibilidades bilhões de outros seres humanos para optar por aquele, com características únicas. Isola-se dos outros um ser, somente um. Único. (…) E planejar é isolar. Porque vislumbrar o futuro sob a ótica de três ou quatro insights ideais é típico de quem, como bom ser humano, sabe isolar como nenhum outro animal. Deixa-se de lado, assim, o a priori impossível para se vivenciar o provável. (…) Também, decidir é isolar; afinal de contas, a vida é feita de escolhas e o simples fato de eliminar uma opção para escolher outra — principalmente quando poucos aspectos são levados em consideração durante a avaliação da alternativa — já lhe conferiria o título de isolador.
O fumante isola o prazer e, por ele, fuma. O marido isola o lazer e, somente por ele, diverte-se com amigos sem a aprovação da esposa. O chefe grita com funcionários e, sendo assim, se isola. E, isolado, não sobrevive. (…) O que se espera, na prática, é que a cabeça seja aberta o suficiente para que o isolamento pleno, injusto, seja visto como uma anomalia — e o é, de fato — , mas não só: espera-se também que nada seja absolutamente isolado e que, de um ou outro modo, tudo seja levado em conta. Pela justiça, por mim, por você, por nossas relações. (…) Viver é não se isolar. Não isolar.
E aí? Quer tc?