Zé Pequeno On the Rocks

Não acredito nesse negócio de inferno astral e, ainda que acreditasse, sequer estaria perto do meu; nasci em maio, primeiro, estamos no meio de outubro. Acredito que há males que vem para o bem. Aliás, poderia até não registrar o causo aqui e ainda assim não me esqueceria. A história começou no microondas, culminou num mar de gelo (…) e ainda acontece.

Costumo alugar filmes e devolver com atraso. Tenho problemas sérios com a dinâmica locadoras vs tempo para alugar/devolver. Por vezes prefiro comprar o danado do filme e não me preocupar. (…) Dias atrás, já pensando na devolução, aluguei um blu-ray, preparei pipoca de microondas, arrumei o quarto e deitei para assistir. Poor decision. Não pela má decisão, mas pela p-i-p-o-c-a. Prum! Quebrei um tequinho de um dos molares porque mordi um milho-não-estourado com força bruta. Dentista.

Depois foi o sábado. Carro novo, centro de Guarulhos, e eu a 20 km/h na esquina mais movimentada da cidade — Tiradentes vs Paulo Faccini –, prestes a ultrapassar um semáforo que ainda estava verde. Por mais 2 segundos, o bem da verdade, mas verde. Ali, importante salientar, o sinaleiro é do tipo mais moderno, com contagem regressiva. (…) Eis que um jovem apressadinho engavetou seu Prisma 2010 no meu carro, coitado, novinho! Seguro, primeira edição.

Segunda-feira de trabalho: passo, repasso, pago. Ou não. (…) Nem quero falar sobre o assunto.

Então, a terça-feira. O dia amanheceu bonito, com a cara de quem nada quer. Gatuno. À tarde, uma tempestade. E aí, quando se imagina uma tempestade no Brasil, nem passa pela cabecinha a ideia de que toneladas de gelo podem cair do céu. Ih, por vezes a gente se engana; e o céu troou. On the rocks! Foram caminhões de gelo em pedras caindo bem do alto, em alta velocidade. Muitas explodiam sobre o coitado do carro, novinho. Vidro quebrado, furinhos mil. Seguro, segunda edição.

Aí começa a patifaria cético-macumbenta do inferno astral. Origem: O bando que atribui ao azar tudo que acontece. Um diz que a culpa é minha, argumentando em favor do acontecimento, contra a compra. “Talvez não fosse a hora de comprar o carro, hein?”. Outro, pior, culpa o carro. “Nem bem arrume o carro e venda-o! Tem encosto nisso aí!”. É um pior que outro; um mais gástrico que o outro. Agora, dica: SEMPRE depende do ponto de vista.

Sabe? Sou de infernizar, ou pior, enfrenesiar. Comumente atribuiria todo esse remeleiro ao inferno astral, xingaria os Céus e o próprio inferno, aquele do fogo-fátuo em seu pior sentido. Mas não. Pelo bem, talvez por conta da madureza, mudei. Aproveitei-me de todo o mal para viver algo diferente. (…) Sem um tequinho do dente, vítima da pipoca, voltei ao dentista para o qual, relapso, não ia havia um todo ano. Sem o carro, todo f*dido, andei quilômetros a pé e mais um bocado de ônibus. Vi gente, conversei com ainda mais. E além: renovei minha carteira de habilitação, assinei meu contrato social, defini priorizar a GQuest e tive ideias, muitas, que certamente serão motivos para bons posts no futuro. Vivi, curti, curto. (…) Ah, e percebi também que meus causos não eram problemas, mas simplesmente causos. (…) Meu dente vai bem, obrigado. O carro? Arrumando, obrigado.

Também porque, querido leitor, se todo problema fosse um carro quebrado, um dente quebrado ou um carburador furado, a vida seria como um mar de rosas. Seria, não é. (…) Seria, não é? (…) Inferno astral, que nada! Meu nome é Zé Pequeno!

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