O livro dos sonhos — Epígrafe

 

O livro dos sonhos

 

Minha mãe se chama Odorica, nome de origem italiana que bem a define: senhora próspera. Meu nome é Willian Girarde. Certa vez me disse que a história de sua vida daria um bom livro e que, num de seus sonhos, gostaria de vê-lo escrito em vida. Até então, sobre a tal história, à exceção dos contos fundamentais, eu pouco sabia. Aliás, é infelizmente comum que saibamos pouco sobre a vida de nossos pais e avós. Então, sem que ela soubesse, sentei à mesa num almoço e pus um aplicativo do telefone a gravar uma conversa de 45 minutos. Foi um dos bate-papos mais divertidos que tivemos. Estávamos em 2012, meados de outubro; eu tinha 31 e ela, 64. Fiz questão, ali, que expusesse um pouco de seus momentos mais marcantes. Na cabeça, a vontade de escrever o livro dos sonhos dela, ainda que pequeno, à minha moda. Na cabeça, a vontade de mostrar ao mundo um pouco da história de minha querida mãe. […] Nos textos procurei expôr em detalhes algumas das importantes lembranças que antecederam a minha vinda ao mundo, em 1981. Porque depois disso, evidente, exceto pela mais tenra infância, as coisas a mim foram se tornando mais claras, sobretudo em nossa relação. Lembro-me bem da época em que ela me levava ao Jardim Encantado — escola nonde cursei o ensino primário — com a lancheira recheada, lembro-me da época em que ela torcia por mim enquanto me arriscava com a camisa 8 no time de futebol do Esporte Clube Vila Galvão, das malcriações adolescentes e da paciência que ela tinha para me aguentar nessa difícil fase. Lembro-me também do acidente automobilístico que sofremos, quando não a perdemos porque meu pai foi heroico; lembro-me da época em que, em meio a almoços e arruma-malas dos filhos, ajeitava-nos para as aulas e para o mundo, das viagens a Minas Gerais, das broncas que me dava, à toa ou não, da época em que avaliava minhas namoradas; enfim, lembro-me de nosso dia-a-dia, que felizmente perdura até os nossos dias. Criou-me, viu-me crescendo, cresceu junto. Nas minhas recordações, uma mulher sábia que bem edificou sua casa, sua família, exatamente como dita a Bíblia. Em minha mais bonita recordação, um simples abraço — o melhor dentre os que já recebi! Nunca vou te deixar só, disse. […] Obviamente tenho em memória muitos outros momentos; muitos muitíssimo bons, alguns poucos nem tanto. Mas os momentos que me antecederam, esses não estavam tão claros, ao menos a mim não estavam ditos. Da garota sofrida que vendia pirulitos nas ruas e sua vinda a São Paulo até a vitória no concurso de miss e o casamento com Odair Girarde, meu pai, houve todo um belíssimo trajeto. Foram momentos que a construíram, que precisavam ser expostos para que ela se sentisse completa. Daí a vontade que tinha de ter escrita sua própria biografia — O livro dos sonhos. Tinha.

Eis o pequeno livro.

Emanuel

 

 

Não é comum, hoje em dia, que se coloque o nome ao próprio filho de Emanuel; é nome antigo, concordo, como os que denominaram crianças em 1920, hoje avós. Ainda assim, e mesmo com a possibilidade de que seja chamado de Mané pelos seus, meu filho levará o nome Emanuel. Emanuel Girarde, talvez com algum outro sobrenome no meio. O motivo é nobre, amado filho — e agora, embora você ainda não exista, volto-me a ti pela primeira vez —: a origem de seu nome é hebraica e, quando traduzido, significa Deus está conosco. Daí sua nobreza. E sendo assim, Emanuel, não nos importa, portanto, que o nome seja tão belo; importa, sim, o seu significado. Emanuel. […] A refletir, decidi que o primeiro de meus textos destinado exclusivamente a ti visa lhe apontar alguns caminhos. Não que sejam os mais verdadeiros e consideráveis caminhos, mas talvez ainda válidos em sua geração, mesmo que tão tão distante.

Sobretudo, Emanuel, valorize a sua família e os seus amigos. Porque todo elemento que estiver num conjunto externo ao conjunto de seus amigos e de sua família, meu filho, não é elemento fundamental o suficiente. Aqui, enfatizo: quando eu digo sobretudo, digo porque a vida comumente nos apresenta — em frequência altíssima! — muitos atrativos aparentemente mais interessantes do que uma tarde em família ou uma conversa entre amigos. Então, abocanhados pela tentação, substituímos o fundamental pelo supérfluo. Somente para que melhor entenda, uma tarde em frente a um computador — ou qualquer que seja o nome do dispositivo que o conecta à internet —, algumas horas em frente a um videogame ou mesmo um bate-papo à toa com a menina que você tanto gosta, por exemplo, nunca serão suficientes para substituí-los à altura. Sobretudo, filho, valorize sua família e os seus amigos porque eles realmente estarão ao seu lado nos momentos em que mais necessitar, nas horas em que você mais precisar de uma mão forte para lhe ajudar a levantar, a dar uma sacudida e seguir em frente. Valorize-os porque eles te amam de verdade, sem quaisquer interesses. […] E se um dia, meu caro, você resolver constituir a própria família, saiba bem que deverá encarar tal sonho como algo sério, ou seja, algo que não deve servir de prenda, sob nenhuma hipótese, nos leilões à toa que são promovidos por aí. Isso significa que você não deve se empuleirar com qualquer bonitinha que lhe aparecer bem vestida, com o corpinho sarado, toda oferecida, a arrebitar o traseiro em sua direção. Não a sobreponha em sua escala de importância. Aqui, meu filho, assim como no apontamento anterior, é a sua futura família que deve estar em primeiro lugar na mente, não o status ou a beleza de sua mulher. Fuja, portanto, dos leilões de sonhos que provavelmente seus amigos promovem junto às mais bonitinhas de sua turma; ao invés disso, escolha uma mulher admirável que sonhe tão alto quanto você, abrace-a forte e siga com ela em frente, superando os obstáculos que defrontarem o relacionamento de vocês, dia após dia. […] Pratique esportes e torça para o São Paulo Futebol Clube, ainda que sua querida mãe torça para o Santos ou para Corinthians. É que, caso você não o faça, perderá oportunidades de ir a estádios de futebol comigo. E eu posso lhe afirmar, pelas experiências que tive com seu avô, que gritar gol ao lado do pai é uma das sensações mais bacanas que existem. Além do mais, considerando o dia em que escrevo este texto, o tricolor paulista é o time mais vencedor do Brasil. […] Aprenda a gostar de ler e leia muito na adolescência. Se o fizer, praticamente excluirá de si a petulância típica dos adolescentes e instalará um catalisador em seu sistema mental, com o qual as coisas serão mais rápidas! […] Na dura caminhada, Emanuel, exceto no caso em que estiver numa improvável e remota era gerida por um sistema menos obsoleto que o capitalista, você precisará de dinheiro. Dinheiro para o cotidiano, dinheiro para se divertir, para fazer compras e para comprar seu primeiro um-ponto-zero e subsequentes carros, mas não só; principalmente, precisará de dinheiro para manter a guarida de sua família. Decerto você também chegará à faixa etária em que vislumbrará a aquisição de um carro esportivo, a mansão de seus sonhos, ou mesmo na fase em que projetará uma conta bancária recheada, com sobras para investimento em renda variável. Sugiro, Emanuel, independente do tamanho de seus sonhos, que você faça boas escolhas profissionais e tenha o pé no chão para não se frustar. Por um lado, se optar por ser funcionário, siga à risca o protocolo do mercado e seja proativo, sempre estudando bastante e à frente de outros profissionais; por outro, se optar por empreender — como seu pai —, prepare-se para sofrer com a falta de dinheiro e estrutura no início dos tempos, bem como para lidar com a pressão por resultados imediatos, que, justamente por serem imediatos, são praticamente impossíveis de se conquistar num só clique. Em relação ao dinheiro, meu filho, tenha muita paciência, pois o alcance da estabilidade na vida financeira acontece aos poucos, bem aos poucos, tijolo por tijolo. Esteja ciente, entretanto, que, apesar de sempre pressioná-lo para que cresça nesse sentido, eu sempre estarei ao seu lado nas épocas de vacas magras, exatamente como ao meu lado seus avós estiveram. […] No decorrer da vida, Emanuel, não guarde nenhum tipo de rancor. Afirmo-lhe com propriedade que rancor é o pior sentimento da face da Terra, um típico estraga-vidas. Assim, se porventura nós discutirmos, brigarmos e as cabeças pegarem fogo, façamos as pazes em, no máximo, 24 horas. Esqueçamos sem traumas a experiência ruim porque, afinal, nossa família será sempre maior. […] E, por fim, meu filho, prepare-se para os tempos em que nossos papeis naturalmente vão se inverter: eu cuidarei de ti até me tornar mais fraco e, então, será a sua hora de cuidar de mim e de sua querida mãe. Quando essa época chegar, acompanhe-nos, esteja ao nosso lado. Nós precisaremos.

Não que os caminhos sejam os mais consideráveis, querido filho. Não tenho dúvidas de que cada qual os próprios caminhos traça. Talvez estes aqui descritos sejam válidos não só para ti, mas também para mim. É que, hoje, os caminhos que por aqui sigo são por ti, por Sofia. São caminhos que traço somente para encontrá-los em breve, logo mais, para um forte abraço e por toda uma vida em família. Com sabedoria e junto a Deus.

Espero-te, filho.

Muito mais além

 

 

Somente os homens de sorte são capazes de, numa noite clara,  encontrar um ponto a partir do qual seja possível enxergar o céu com clareza de detalhes. Não aquele pretume absoluto, mas o céu imenso, intenso, farto de estrelas. E mesmo com todo ele à frente, completo, há quem acredite que o céu tem fim, que pára numa parede, fica intransponível num limite sólido o suficiente para impedir que alguém dali passe. Mentira. A esses — os céticos — posso afirmar com certa segurança: o céu não tem limite. […] A evidência que comprova tal afirmação não está no que se diz por aí cientificamente. Muito pelo contrário: ela me apareceu num restaurante, no decorrer de uma conversa incrível. E o mais curioso: num restaurante sem vista para o céu.

Desde muito cedo, coitados, somos levados a acreditar que tudo tem limite: aprendemos na escola que o planeta nonde vivemos é cortado por trópicos imaginários e os países que o compõe, limitados por fronteiras também imaginárias. À medida que crescemos, somos moldados à luz das normas e dos diferentes costumes culturais. Respeitamos regras na família, criamos relações ciumentas do tipo isso-pode, isso-não-pode e ainda vivemos sob a égide dos alienantes códigos de conduta no trabalho. Em tudo há limite, por todos os lados: do crédito concedido pelos bancos às possibilidades de recordes no esporte olimpico; da capacidade produtiva à nossa mais vã paciência. [..] E mesmo quando nos estimulam a superar os limites, é preciso considerá-los para que haja a tal superação. É como se o mundo não funcionasse sem os limites.

Na prática, porém, não é bem assim: o mundo vive muito bem sem muitos deles, até porque todo limite tem seu contraponto desmoralizante. Para alguns, por exemplo, manter relações com o amor antigo é um fator limitador para que se conquiste um novo; para outros, contudo, abrir o coração ao novo é uma das formas de se desvencilhar do antigo. Mesmo a morte, vista como o mais tenebroso ponto final, pode ser encarada como limite da vida por muitos ou como ponto de partida de um novo ciclo por outros. Nas primeiras percepções, o limite; nas segundas, a impulsão. […] Em suma, limitar é ação mental.

Entendi, por fim, que muitos de nossos limites são frutos de crenças infundadas, ou seja, são limites imaginários. No fundo, nem tão fundo assim, nunca existiu um limite para o encontro de um novo amor, novas amizades, novas culturas e novos assuntos. Exceto pela crença infundada de que seguir em frente é, por si, um limite, nada nos impede de seguir em frente, viver novas experiências e, ao fim, rir do passado, seja ele bom ou ruim. […] Ontem, lá no restaurante, fui homem de sorte. Conectei-me a um ponto a partir do qual foi possível ver tudo de um modo diferente, sob outra ótica. Quebrou-se o limite. Foi como olhar para o céu e, por sorte, deparar-me com o imenso, o intenso, com a fartura de estrelas. Sem limite, sem fim. Tudo de novo.

Fui muito mais além.

Sofia

 

 

Sofia Girarde. Ou Sofia Alguma-coisa Girarde. Sobretudo, Sofia. Metade disto é dela, para ela: minha filha. Ela não existe e há no mundo às centenas as pessoas que já me disseram ser idealismo demais; afinal, dizem, se pararmos para pensar, o amanhã na verdade não há. Ainda, concordo, realmente não há, digo o amanhã tampouco Sofia, mas há de existir, se Deus assim o fizer, o amanhã em que ela nascerá. E decerto, filha, — és esta a primeira oração escrita por mim a ti — será o dia mais feliz de minha vida.

Abre pensamento. Com um vestido daqueles que só as mães de bom gosto sabem comprar, branco nos detalhes, bem limpo e que deixa a criança bastante livre, a pequena criança anda pelo parque a brincar. Corre às custas do desespero da mãe. Filha! Pare de correr! Esbarra num, faz o ciclista desviar, segue correndo em direção ao lago enquanto o volume dos gritos da mãe diminuem gradativamente. Com cabelos escuros ondulados e menos esvoaçantes por conta de uma tiara, a maquiagem maleporcamente auto-aplicada, tímidas gotículas de suor sobre a testa e a feição típica das crianças felizes, ela se diverte. Sacode a água, assopra uma dente-de-leão — aquelas flores brancas repletas de sementes que voam  pelos ares —, arremessa pedras na placa de aço e enjoa da brincadeira. Corre para outras com a cabeça ali, não noutro lugar. Porque, para crianças, exceto pelo medo do escuro, do ficar-sozinho, das polícias e dos assustadores monstros do imaginário, as preocupações do mundo não as impedem de se divertir e viver bem à mais perfeita toa. Elas correm de modo inconsequente, brincam como em nenhuma outra época da vida; dançam, pulam, falam alto e pouco se importam com o teor das conversas, contanto que sejam verdadeiras. Têm a imaginação fértil, fantasiosa, mágica. Ufa! E depois de todo um dia, já cansada, a garotinha chega em casa, brinca mais um pouco com os pais, gargalha, depois chora, mas vai ao banho a contragosto. Ali, n’água, esquece e diverte-se mais um pouco; afinal, quem não se derreteria de tanto brincar numa dessas banheiras para criancinhas? Por fim, deita-se em roupas leves sob a penumbra de um quarto único, com o cheiro e brinquedos só dela. Dormiu a que vive no mundo das crianças e embeleza toda uma família. É protagonista, é filha, professora e mestre em fazer com que os adultos se embasbaquem de felicidade. É felizFecha pensamento.

Talvez, Sofia, este texto bobo, que reflete um pouco do que me vem à mente quando penso em ti, não refletirá o que tu serás quando estiver por aqui. Puro idealismo. Ou refletirá, sabe-se lá. É que, confesso, a cada vez que vejo uma pequena garota com feições como as minhas, penso em ti, em como podes ser quando nascer. […] Importante, porém, além de meus vãos idealismos, é que por você já estou por aqui há 31 anos, mais precisamente. Sim, estou neste mundo — que à sua época certamente será muito mais belo do que este no qual vivo — e tenho a certeza de que, aqui, brincaremos aos montes.

Espero-te, filha.

Lídia

 

 

Corcunda, ela subia a rua a pé numa roupa estampada, típica dos mais antigos, o cabelo branco como algodão doce, a bengala tocando o chão a cada segundo e a expressão de esforço no rosto, já levemente suado. A sombra das árvores bem que ajudavam a amenizar o ensolarado dia, mas a cena, ainda assim, era incomum; afinal, não mais se espera de uma senhora à beira dos 90 que saia de casa, suba num ônibus e vá ao centro da cidade para resolver problemas cotidianos. Surpreendia sobretudo o ritmo um-bengalinha-dois-um-bengalinha-dois incessante, de modo que me esforcei um pouco para alcançá-la. Do outro lado da rua, eu já havia reconhecido aquele jeito ímpar de andar. Era Lídia, minha tia-avó.

Um-bengalinha-dois. Então, de supetão, com um pequeno salto à frente e o coração na boca, foi-se o ritmo. Ela havia se assustado com minha abordagem — Oi, Tia! É que, embora ela tenha nascido no período pós-guerra, em 1922, à epoca da Semana de Arte Moderna, não me parece que a vida urbana da época era tão cruel como a de agora. Frágil, sem a força descomunal daquela jovem paranaense dos anos 20, hoje bem guardada somente na memória, é natural que se assuste. Olhou para mim, reconheceu-me, pousou as duas mãos brancas e enrugadas sobre meu rosto e beijou-me numa das bochechas. Oh, meu filho! Ali, enquanto de nós os perambulantes se desviavam, conversávamos. Nem havia tanto assunto assim, pois nossos encontros — graças a Deus — ainda são frequentes, mas quis saber o que fazia por ali. Não me lembro qual foi a resposta, tampouco me lembro dos assuntos que tratamos durante os dois ou três minutos que ali ficamos. Vê-la bem, saudável, falante: nada ali era mais interessante. […] Então, outro beijo depois, foi-se em frente. Um-bengalinha-dois. Olhei-a de costas, corcunda, indo em frente com sua bengalinha. Senti-me orgulhoso.

Tia Lídia é a velhinha que todo mundo quer ter como avó. Além do cabelinho branco e da bengalinha — o que, por si, costuma atrair os que respeitam e se aproximam dos bons velhinhos —, ela ainda gosta de bingo, baralho, pescaria e missa. É com frequência que vamos juntos a programas nos quais ela fica parada, geralmente sentadinha na cadeira mais confortável, a receber beijos e carinhos alheios. […] No bingo, nem é tão sortuda assim. Com a mania de entortar a boca a cada número não marcado, ela ganha muito pouco, faz questão de comprar as cartelas com as quais joga e se mostra bastante supersticiosa — costuma rabiscar o coringa, aquele elemento central do jogo que já vem marcado na cartela de números. No baralho, escopa de 15. Aliás, para quem não sabe, a escopa de 15 é um jogo de cartas que veio para o Brasil com os imigrantes italianos, lá no início do século XX. Só velhinhos jogam hoje em dia, e Tia Lídia é um deles. Dizem que ela rouba e, quando não ganha, reclama que houve roubo por parte do adversário. Rumores. Na pescaria, até que se dá bem. Veste uma roupa própria para se defender dos mosquitos, um chapelão no melhor estilo mexicano e põe-se a pescar, espetando sôfregas minhocas no anzol a cada peixe perdido, quase sempre por conta de não chegar a tempo de fisgar o danadinho. Não há notícias de que num lapso qualquer tenha confundido a bengala com a vara de pescar. Bom sinal. Na missa não falta. Aliás, não só não falta às missas, mas reza durante todo o tempo em que está livre. Já às 5 da manhã, à beira do quarto onde costuma dormir, ouve-se um bzzz! bzzz! constante. É Lídia rezando, crente em Deus como só ela.

Ao fim do texto, é exatamente com Deus que quero falar. […] Há pouco mais de um mês, saudável ao ponto de soprar com força a velinha 9 e a velinha 0, uma ao lado da outra, Tia Lídia completou 9 décadas. E eu realmente gostaria, Cara — com C maiúsculo —, que ela pudesse soprar três velinhas de uma só vez daqui 10 anos. Ela merece, nossa família merece e o mundo — já carente de pessoas como ela — também merece.

Pode ser?