Acabo de receber um dos abraços mais marcantes de toda a minha vida. Um abraço de mãe, de mamãe, da minha querida mãe. Senti-me há pouco como se habitasse um novo mundo, envolvido pelos braços de quem amo e sobre um colo tão confortável quanto aqueles em que meus pais me receberam pela primeira vez, ainda bebê. (…) Acabo de ser tomado por uma sensação sublime, incomum e rara, do tipo que, por conta do mundo contemporâneo e suas novas configurações, experimentamos somente em momentos especiais. E, ¿quer saber?, o sentido da vida — a felicidade, o ser-feliz — coube ali, num abraço. Aquele Abraço.
Em retrato, os olhos se fecham como se a Terra não fosse ambiente suficiente para suportar tamanha intensidade, tão forte luz. Os tímpanos deixam de vibrar para que o corpo, tomado por um extraordinário sentido não-científico, possa reverberar energia ao invés de sons. Os corpos, ainda que guardados à sombra de roupas vendidas sob a superfície deste mundo, transformam-se num, somente um. Lágrimas brindam o encontro para que se refresquem os fervores do sentimento, ou talvez porque simplesmente simbolizam o pranto, aquela reação natural decorrente óbvia de tal sensação e típica da máquina humana. (…) Enfim, um abraço. O Abraço.
Ligação, união, demonstração de afeto e amizade. Amplexo. (…) Tão logo se foi e passei a pensar sobre os possíveis motivos pelos quais não abraçamos. Pois abraçamos com menos intensidade a qualquer momento, qualquer coisa, mas não abraçamos de verdade. Porque o abraço — o verdadeiro — é assim que se dá. Porque o abraço — o marcante — só se dá assim. E, assim, pouco importa o porquê de ter se dado. E quando imagino, então, o motivo pelos quais não abraçamos, fico a ver navios, não chego a conclusão alguma. E a imaginação fica assim, triste, a questionar: ¿por que não abraçamos? ¿por que não viver, agora, a sensação que nos remete à felicidade? ¿por que precisamos de motivos?
Acabo de receber um dos abraços mais marcantes de toda a minha vida. Um abraço de mãe. Acabo de entender também que a felicidade está aqui, ali, bem perto, e se mostra singela como num aperto sincero. Simples. Basta somente que meus braços estejam dispostos. E os seus. E também os braços dele. Os braços dela.
Abraços.