Não creio que desigualdade social seja um termo que represente a injustiça at all. Muito pelo contrário. Não acredito sequer que a desigualdade social seja fruto da injustiça, mas que existe justamente em decorrência da palavrinha que está estampada no outro lado da moeda — a justiça. Sob meu ponto de vista, a diferença entre um indivíduo e outro, entre mim e você e entre o mais e o menos abastado está originalmente na visão de mundo, na forma por meio da qual cada indivíduo enxerga e vivencia a realidade.
Imagine um jovem — o primeiro — de 19 anos. Tal pode imaginar que o trabalho nessa época lhe trará dinheiro, estabilidade, liberdade e prestígio. Então imagine outro jovem — o segundo — também de 19 anos. Por sua vez, pode imaginar que o trabalho deve lhe servir como uma espécie rara de catapulta capaz de levá-lo, sem a interferência de qualquer obstáculo, à realização de um sonho (que pode, inclusive, ser também o de conquistar “dinheiro, estabilidade, liberdade e prestígio”). (…) A diferença entre o primeiro e o segundo, muito embora tênue, talvez seja O exemplo a ser dado quando a questão polêmica da desigualdade estiver em pauta. (…) Em situações drásticas, o primeiro jovem culpa o trabalho; o segundo se culpa.
Quer entender? Pois bem.
Ao discutir sobre desigualdade, o primeiro jovem tem lócus externo de controle, ou seja, tende a se sentir prejudicado quando o trabalho não lhe oferece sequer o mínimo do que se espera; acha desigual a relação em que ele não tem e o outro jovem tem, e vice-versa. O segundo, porém, tem lócus interno de controle e se culpa quando em apuros; acredita que, quando não realiza o objetivo proposto, o problema está em si, não em outros. (…) Assim, enquanto o primeiro jovem lamenta a injusta desigualdade, o segundo jovem pensa, trabalha e realiza. A diferença está na visão de mundo, no ponto de vista.
A injusta (ou justa?) desigualdade só entra em pauta, por sinal, quando alguém se sente prejudicado. É desigualdade aqui, reivindicação acolá. Estafante. Por outro lado, pense bem, é justamente no trabalho que está a raíz de toda a desigualdade. (…) O primeiro jovem se sente prejudicado porque o trabalho nada lhe oferece. Passa, assim, a se sentir desmotivado, hostil em relação aos (sob seu ponto de vista) “culpados” e então passa também a produzir menos, a conquistar menos. Nesse sentido, nada de dinheiro, estabilidade, liberdade e prestígio à vista. Já o segundo atribui a si a culpa pela má condição. Passa, assim, a se motivar, a batalhar por melhorias e, então, passa também a produzir mais para se safar do problema. Por consequência disso, pipocam dinheiro, depois estabilidade, liberdade e, por fim, o prestígio.
Natural — para não dizer lógico — que a condição entre tais jovens seja desigual. O primeiro terá conquistado, no final das contas, muito menos que o segundo. E, convenhamos, é justo que seja assim. O primeiro viveu próximo de uma espécie de muro das lamentações; o segundo, simplesmente trabalhou. O menos abastado foi reclamildo, dependente, desmotivado. Já o mais abastado teve outra visão de mundo, realizou mais, foi proativo e menos cético. (…) Não me venha, portanto, com a ideia de que a desigualdade é fruto de injustiça. Não é. Se existe, leitor, desigualdade entre mim e você, ela existe porque alguém, num momento qualquer, enxergou o mundo de outra forma, culpou-se mais, motivou-se mais, trabalhou mais e, por tudo, acabou conquistando mais que o outro. Simples assim. Justo.
(…)
“Algumas pessoas sonham com o sucesso, outras levantam cedo e batalham para alcancá-lo” – Aleksandar Mandic