Estive a conversar com uma grande amiga há alguns dias sobre incerteza, esse negócio de não saber o que a vida vai nos oferecer no dia seguinte. Concluímos que, bem espertinhos, nós sempre a utilizamos segundo a conveniência.
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã é típica. A frase ilustra bem como se dá, em nossas cabecinhas, a dúvida sobre o futuro. Também porque, se você parar pensar, o bem da verdade, o amanhã realmente não há. E fato comum: nesse sentido a gente se classifica como a gota d’água, o grão de areia. Somos nada diante do incerto.
Tomamos decisões importantes em relação à vida pessoal e profissional, das menores às graaandes. Em detrimento de outra, por exemplo, optamos por uma carreira que perdura ao longo de toda a vida (ou ao menos até outra importante decisão nos levar a novos ares). Além, outro fato comum, entregamos o coraçãozinho numa bandeija dourada àquela pessoa que, a priori, merece, ou melhor, aparenta merecer. Compramos carros, casas, trabalhamos além da conta e investimos tempo e dinheiro nos mais diferentes apelos da sociedade moderna, dos cosméticos para a pele, perfumes e academias de ginástica à velha e boa biblioteca doméstica ou, nos casos em que a família já se consolidou, à mensalidade escolar dos filhotes. (…) Em todas elas, da decisão mais simples à mais complexa, as resultantes são incertas; é difícil prever se o ponto final de tanto esforço será algo positivo ou não.
Nossa esperteza, no entanto, encontra-se no ponto em que a incerteza se torna conveniente.
É bastante conveniente, #reflita, decidir e atribuir à incerteza o argumento elementar da decisão. (…) (1) O rapaz que abandona o relacionamento porque o futuro entre ele e a namorada, à sua percepção, lhe parece incerto. (2) A cobiçada garota do canto da sala que, por sua vez, não se relaciona com o galã de toda a escola porque acredita, muitas vezes baseada justamente em sua própria confusão, que a possível união pode não se sustentar ao longo do tempo por um ou outro motivo fútil. (3) O vestibulando que ama analisar os mistérios do mar e NÃO opta por estudar oceanografia porque NÃO está certo de que sua escolha, em cinco ou dez anos, poderá lhe trazer uma quantidade suficiente de dindim para bancar toda uma família. (…) Coitadinha da incerteza, pobre injustiçada, é vista nos três casos como a toda-culpada por todas essas armadilhas.
Ao meu ver, pouco sabemos e pouco saberemos sobre o futuro. Muito embora possamos minimizar os riscos do mal-viver com uma boa dose de planejamento, é bem improvável que consigamos, a todo momento, vislumbrar o que a vida vai nos oferecer no dia seguinte. E quer saber? Que bom, não é mesmo? Seria chatérrima uma máquina do tempo com a qual pudéssemos navegar por toda a nossa timeline. C-h-a-t-é-r-r-i-m-a! (…) Resta-nos conviver com a incerteza e vivenciar o que temos hoje: nosso Presente. Nesses raros casos, ninguém culpa a incerteza por conveniência e a vida fica ainda mais interessante: o rapaz abandona a garota porque não sentiu ‘a liga’ ou porque realmente nada sente por ela, a cobiçada garota do canto da sala assume seu amor pelo galã e deixa, enfim, todo o amor acontecer, e o vestibulando, meus parabéns!, parte para uma bem-sucedida carreira como oceanógrafo. Resta-nos viver o Presente, desencanar um pouco da eterna tentativa de prever o futuro (aka trabalho da Mãe Dinah) e curtir. Porque a vida é agora.
Carpe Diem, folks! Amemos e curtamos a vida como se não houvesse amanhã.